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Coluna

Além dos números: a pesquisa qualitativa nas dinâmicas organizacionais

31 de janeiro de 2025

6 min de leitura

Abordagem é útil como ferramenta para explorar a complexidade das interações humanas e sociais

Regressão, gráficos, boxplots, tabelas, softwares… A ciência de dados domina o cenário da pesquisa organizacional. As abordagens quantitativas foram conquistando espaço pela precisão, objetividade dos números e facilidade de traduzir resultados em gráficos e dados impactantes, principais ferramentas utilizadas para as decisões de gestores e líderes nas organizações.

Por outro lado, como já dizia Albert Einstein, “nem tudo que pode ser contado conta e nem tudo que conta pode ser contado.” Essa reflexão levanta um questionamento: até que ponto os números, por mais precisos que sejam, conseguem captar a complexidade e as nuances que compõem as relações humanas nos contextos organizacionais? Não se trata de considerar uma abordagem como superior à outra, mas sim de compreender que a escolha depende do que se deseja descobrir e do objetivo específico do pesquisador ou gestor. É fundamental prestar atenção nesses aspectos para determinar o caminho mais adequado (Creswell, 2014).

Imagine uma organização que avalia, por meio de uma pesquisa quantitativa, o nível de satisfação de seus colaboradores. Os dados apontam uma média de 7,5 em uma escala de 0 a 10, sugerindo um cenário de satisfação aparentemente confortável, frequentemente rotulado como “acima da média”. Contudo, uma complementação dessa análise com entrevistas em profundidade ou mesmo com a observação direta da rotina e dos processos no dia a dia pode evidenciar uma realidade bem mais complexa: conflitos silenciosos — comuns aos organismos vivos que se relacionam — que podem revelar lacunas e ressentimentos que o índice “7,5” não seria capaz de traduzir.

Por outro lado, a pesquisa qualitativa enfrenta uma série de desafios que permeiam as críticas teóricas, abrangendo aspectos práticos, metodológicos e de aceitação no meio acadêmico e organizacional. Um dos principais pontos levantados é sua subjetividade interpretativa, uma vez que a análise dos dados depende fortemente do olhar e das experiências do pesquisador. Ademais, muitos críticos argumentam que os resultados qualitativos carecem de capacidade de replicação, já que são geralmente baseados em amostras pequenas e contextos específicos, dificultando a aplicação dos achados em outros cenários (Günther, 2006; Gomes et al., 2014).

Em contrapartida, na teoria de González Rey sobre a epistemologia qualitativa, o pesquisador desempenha um papel ativo na interpretação, sendo essa interação fundamental para revelar dimensões dos fenômenos que os métodos quantitativos não conseguem captar (Pinto e Paula, 2018). Além disso, ele reforça que a busca pela compreensão contextualizada e aprofundada deve prevalecer, valorizando as especificidades de cada contexto. Creswell (2014) enfatiza que, para minimizar possíveis vieses, o pesquisador deve esclarecer sua posição desde o início do estudo. Nessa abordagem, a pesquisa qualitativa se posiciona como uma ferramenta para explorar a complexidade das interações humanas e sociais, destacando a subjetividade no processo de construção do conhecimento.

Da teoria à prática

Para responder a questões como as abordadas, diferentes métodos qualitativos foram desenvolvidos e adaptados ao longo do tempo, cada um com suas particularidades e aplicações específicas. Essas abordagens oferecem metodologias com fundamento teórico, a fim de aplicar práticas voltadas à exploração de fenômenos complexos. Esses fenômenos, muitas vezes, estão relacionados a grupos específicos, ações, projetos ou indivíduos que são exclusivos de determinado contexto e momento. O quadro abaixo apresenta os principais métodos qualitativos e como eles podem ser aplicados tanto para entender a operação das organizações quanto para identificar soluções estratégicas baseadas em suas realidades.

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos autores referenciados
Nota: ¹as referências completas estão disponíveis em arquivo no final do texto

Esses métodos deixam claro por que a pesquisa qualitativa não se limita a responder “o quê” e “quanto”, mas também “como” e “por quê”. Como destaca Eco (2010), esse tipo de estudo exige do pesquisador uma postura analítica e interpretativa, guiada por uma compreensão ampla do contexto. Imagine uma empresa que busca identificar por que determinados colaboradores têm dificuldade para se adaptar ao trabalho remoto. Através de entrevistas qualitativas, é possível identificar questões abrangentes, como falta de interação social, dificuldade em conciliar vida pessoal e profissional ou até mesmo desafios tecnológicos, cuja subjetividade a pesquisa quantitativa nem sempre consegue captar, devido à complexidade das experiências humanas, as quais exigem métodos que permitam uma análise mais rica.

No contexto organizacional, Denzin e Lincoln (2011) ressaltam que a pesquisa qualitativa é fundamental para compreender as dinâmicas internas de equipes e lideranças de forma mais profunda. Por exemplo, ao analisar a cultura organizacional, esse método pode ser relevante em casos de alta rotatividade de funcionários, pois, por meio de grupos focais e estudos de caso, é possível identificar causas subjacentes, como falhas na comunicação ou a falta de reconhecimento, que frequentemente não são captadas por métricas numéricas e se perpetuam devido à ausência de intervenções baseadas em uma compreensão mais contextualizada e detalhada.

Métodos mistos

Os métodos mistos, conforme enfatizado por Creswell (2014), oferecem uma abordagem interessante ao integrar o rigor da pesquisa quantitativa com a profundidade da pesquisa qualitativa. Essa combinação permite validar e enriquecer os dados coletados, ampliando o entendimento do contexto e das pessoas e promovendo análises mais completas. Em metodologias que são realizadas em sequência, as abordagens podem ser aplicadas de forma complementar, por exemplo, usando pesquisas quantitativas para mapear padrões gerais e, em seguida, métodos qualitativos para explorar as razões subjacentes. No modelo convergente, ambas as metodologias são aplicadas simultaneamente, integrando os resultados para gerar uma visão mais robusta. Mas há desafios e críticas nessa combinação.

Um dos principais desafios dos métodos mistos é a dificuldade de alinhar paradigmas epistemológicos distintos (Kunh, 1998); enquanto os métodos quantitativos buscam objetividade e generalização, os qualitativos enfatizam a compreensão de contextos específicos e interpretações subjetivas. Nessas circunstâncias, a flexibilidade metodológica torna-se essencial, especialmente em áreas como saúde, educação e negócios, nas quais a análise de fenômenos complexos demanda abordagens que sejam ao mesmo tempo detalhadas e adaptáveis à realidade de cada pesquisa.

Creswell (2014) ressalta que essa combinação pode não ser viável em estudos com limitações de financiamento e cronograma. Além disso, no caso de programas como mestrados ou pós-graduações, aplicar dois métodos tão distintos pode se tornar extremamente desafiador para um pesquisador que, geralmente, possui um prazo limitado de até dois anos para concluir o curso.

A inovação e o futuro da pesquisa qualitativa

A pesquisa qualitativa está se adaptando com o auxílio de novas tecnologias; com a ajuda da inteligência artificial (IA), ela está expandindo suas possibilidades de análise e coleta de dados. A IA possibilita, por exemplo, a transcrição automática de entrevistas, a análise de sentimentos em textos e a identificação de padrões em grandes volumes de dados qualitativos, como apontado por Marcolin et al. (2023). Isso não apenas reduz o tempo para as etapas operacionais, mas também auxilia na profundidade das interpretações, permitindo que o pesquisador se concentre nas questões centrais da análise e não mais em quanto tempo vai precisar para transcrever as inúmeras laudas de entrevistas feitas com a ajuda do seu fiel gravador de bolso.

Um bom exemplo é a Read.ai, ferramenta projetada para otimizar reuniões virtuais que também pode ser utilizada como um recurso complementar em pesquisas qualitativas. O aplicativo oferece transcrição automática de reuniões e interações em plataformas como Zoom, Microsoft Teams e Google Meet, além de funcionalidades de análise de sentimentos e engajamento. Essas aplicações permitem que pesquisadores identifiquem padrões emocionais, métricas de participação e destaques das conversas, contribuindo para a análise de dinâmicas grupais e entrevistas em contextos on-line.

Até mesmo a gamificação está auxiliando os pesquisadores qualitativos. Alguns jogos adaptados estão ajudando na forma como os dados são coletados, tornando o processo mais dinâmico e engajador para os participantes. Em vez de entrevistas tradicionais, é possível criar cenários interativos que simulam situações organizacionais, extraindo percepções e atitudes autênticas em contextos simulados (Mozzato e Bert, 2024). Além desses exemplos, a imagem abaixo apresenta outras ferramentas que podem auxiliar na pesquisa qualitativa.

 
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Martins (2022)

Essas ferramentas, quando integradas às abordagens qualitativas, não apenas ajudam a superar as suas limitações, mas também oferecem novas formas de compreender as dinâmicas organizacionais (Marcolin et al., 2023), desafiando a dependência excessiva dos números. Uma vez associada às inovações tecnológicas, essa abordagem se torna ainda mais poderosa, proporcionando uma análise mais rica e contextualizada dos fenômenos estudados.

É nesse contexto que a pesquisa qualitativa, potencializada por inovações como a inteligência artificial, reafirma sua relevância, oferecendo uma análise mais completa, detalhada e centrada na complexidade humana. Afinal, a verdadeira riqueza está em compreender o que os números sozinhos e palavras soltas não podem revelar, como já bem citado aqui por Einstein!

Para ter acesso às referências desse texto clique aqui.

Este conteúdo foi produzido por:

Luiz Eduardo Giovanelli

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Editor assistente da Revista Estratégias e Soluções. Mestrando em Administração pela Universidade de São Paulo. Especialista em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e graduado em Administração pela Universidade Estadual do Norte do Paraná. 

Autor

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Editora Pecege

Produz materiais nas áreas de agronegócios, educação, gestão e tecnologia, prestando serviços de padronização, revisão, elaboração de ficha catalográfica e produção gráfica. Gerencia a publicação das revistas Quaestum (científica) e Estratégias e Soluções – E&S – (técnico-científica) e publica livros em diversas áreas.

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