A inclusão no ambiente corporativo e o “tokenismo”
16 de agosto de 2024
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Para especialista, embora algumas empresas tenham boa vontade com relação à diversidade, ações isoladas ainda existem
Segundo estudos conduzidos pela Mckinsey & Company, empresas com diversidade étnica e racial na liderança apresentam retorno financeiro superior. Coincidência ou não, inclusão e diversidade são tópicos que estão sempre em alta no mundo corporativo. Por causa disso, empresas com esse posicionamento têm boa reputação no mercado, o que traz um diferencial competitivo e impacta na atração e retenção de talentos. No caso das pessoas com deficiência, além de ser considerada uma boa prática, no Brasil sua contratação é prevista em lei – entre 2% e 5% das vagas das empresas com mais de 99 funcionários devem ser destinadas às pessoas com deficiência (PCDs).
Mas e do ponto de vista dos colaboradores, como é a experiência das pessoas com deficiência nas empresas? Nossa entrevista deste mês no videocast da Revista Estratégias e Soluções (E&S), da Editora Pecege, é com a psicóloga Ana Marques, que contou um pouco a respeito do seu dia a dia como especialista em diversidade e inclusão em uma multinacional. A perspectiva da entrevistada foi duplamente interessante porque, além de tratar do tema profissionalmente, ela própria é uma pessoa com deficiência. Ana, que é surda bilateral oralizada (tem perda auditiva, mas usa a fala para se comunicar) e perita em leitura labial, participou de uma conversa interessante com a apresentadora Soraia Fessel. Assista abaixo.
*Vídeo legendado pela Skylar
A psicóloga Ana Marques conta que seu processo de desenvolvimento foi desafiador desde cedo, porque ela cresceu sem referências, em um meio exclusivamente com pessoas ouvintes, e estudou em escolas regulares sem programas de inclusão.
No âmbito profissional, hoje ela conduz treinamentos que descreve como “grupos terapêuticos”, porque durante os eventos as pessoas acabam percebendo as ideias pré-concebidas que muitas vezes mantêm sobre o tópico da diversidade. “Às vezes até me chamam no privado depois, querem conversar”, conta. Segundo Ana, muitos afirmam que “não são pessoas ruins, mas cresceram com essa ideia [preconceituosa]”.
Para ela, o ambiente corporativo brasileiro ainda não está preparado para acolher as PCDs, embora várias instituições tenham boa vontade. “A gente sabe que tem empresas que fazem ‘tokenismo’ [ações isoladas de inclusão]”.
“No mundo corporativo, se você fala inglês ou espanhol, você tem um salário maior, consegue bons empregos, mas se você fala Libras, você não tem isso”, diz. “Se você não está preparado para receber uma pessoa surda em Libras no seu espaço, como você vai vender para ela?”, provoca. “Há a necessidade de [haver uma] transformação cultural até chegar à inclusão”, afirma.
Sobre a entrevistada
Ana Marques é psicóloga, especialista em gestão de pessoas e consultora especialista em diversidade e inclusão. Faz parte do Alumni do MBA em Gestão de Pessoas da USP/Esalq.